Hoje quando vinha a conduzir para o trabalho (ainda com um olho aberto e outro fechado) e deparei-me com uma visão que me levou a recuar no passado.
O modelo da carrinha não era este… era mais antigo! Uma Citröen saída dum qualquer filme da II Guerra Mundial!
“Ainda existem bibliotecas itinerantes em Portugal?!”, questionei-me! “Como é que é possível?!”.
Depois dei por mim a recordar a minha infância… Na vila onde vivi até aos 19 anos (altura em que saí de casa dos meus pais) não existia este tipo de serviço, pois existia uma biblioteca, daquelas a sério. Um local de silêncios e de muitas estórias, com um cheiro que sempre me encantou. Desde que me lembro de existir que aquele local me marca a memória. Nunca esquecerei a excitação que foi inscrever-me na biblioteca! Foi no meu primeiro dia de aulas da 1ª Classe. A minha irmã foi comigo nesse acto solene. A partir daí as minhas visitas passaram a ser regulares, praticamente quinzenais.
Mesmo não sabendo ler muito bem lá ia eu requisitar livros… primeiro as BD’s, depois os livros de crianças, também a literatura infanto-juvenil e, por fim, a literatura geral. Ler o
Robison Crusoé aos 10 anos foi uma emoção desmedida! Vasculhar
O Crime do Padre Amaro aos 14 foi uma aventura sem precedentes, que deixou a minha mãe atónita! A grande barreira que me coloquei foi ler o
Nome da Rosa aos 16! Tinha a mania que já sabia latim… demorei meses a traduzir e a investigar a Idade Média para conseguir entender o livro!
Devoro livros, amo livros, prezo a minha biblioteca pessoal como o meu maior tesouro! Quando entro no meu escritório ouço os murmúrios das milhares de personagens que estão naquelas prateleiras… No outro dia quase que jurava que o Santo Agostinho estava a discutir seriamente com o Saramago! LOL
Gostei desta pequena viagem no tempo… dos anos em que me enfiava debaixo da cama, com uma lanterna para poder ler até me fartar. Dos tempos em que fui passeando pela biblioteca. Dos momentos que passei abraçada a estórias incríveis!
Agora estou a reler o Garcia Marquez, mas as
Cartas Filosóficas do Voltaire, prenda de ontem da N(amorada), já estão a olhar para mim.