2005/08/20

POESIA

É impossível não amar e não referir o poeta dos amantes, do amor, o grande Neruda, que sempre me acompanhou e adoro ler.

Para ti...

Vês estas mãos?
Mediram a terra, separaram os minerais e os cereais,
fizeram a paz e a guerra, derrubaram as distâncias
de todos os mares e rios,
e, no entanto, quando te percorrem a ti,
pequena, grão de trigo, andorinha,
não chegam para abarcar-te,
esforçadas alcançam as palomas gêmeas
que repousam ou voam no teu peito,
percorrem as distâncias de tuas pernas,
enrolam-se na luz de tua cintura.
Para mim és tesouro mais intenso de imensidão
que o mar e seus racimos
e és branca, és azul e extensa como a terra na vindima.
Nesse território, de teus pés à tua fronte,
andando, andando, andando, eu passarei a vida.


Pablo Neruda

SE...

A importância dos "ses" na vida é algo aterrador quando nos damos conta. Vamos vivendo com o "se" na boca, sem nos darmos conta da impotência que essa ridícula palavrinha contém...

"Se aqui estivesses..."
"Se eu não tivesse dito aquilo..."
"Se eu tivesse tomado outra decisão..."

...

E ficamos reféns da palavrinha, sem lutarmos e eclipsarmos a mesma do vocabulário.

Árdua tarefa, não é?

2005/08/17

O AMOR

O amor é misterioso porque nos faz rumar por zonas desconhecidas dentro de nós. Mas é graças ao amor que se torna possível navegar na aridez desse deserto e é também graças a ele que compreendemos o significado da "confiança" e do "incondicional".

Já não existe o meu amor por ti e o teu amor por mim... existe o nosso amor, partilhado, vivido e que cresce em conjunto. Somos os plurais dos extintos singulares "eu" e "tu", nesses verbos mágicos que se conjugam no presente definitivo e futuro ansiado. Amamos. Amaremos. Somos. Seremos.

E dizer-te mais do que isto, ser mais simples e objectiva é difícil, porque hoje sei dizer-te o momento exacto em que baixei as minhas defesas e me entreguei a ti de forma incondicional sem medos e sem máscaras, para descobrir que conseguiste estancar o sangue e florescer nova pele em mim.

2005/08/16

FACES

A C. costumava dizer de mim uma coisa interessante: de que passo a imagem de ser um rochedo sólido e inquebrável, mas de que na realidade sou mais frágil do que o vidro, com a agravante de viver tudo em silêncio. Ultimamente tenho pensado nisto, bem como se devo espelhar a realidade ou limitar-me a projectar a imagem de força.

A opção pela máscara é sempre a mais fácil... embora isso acarrete o problema de que a máscara se cola à pele e, com escorrer da areia na ampulheta, vira nova pele... Demorei vários anos a conseguir arrancar películas atrás de películas e a tentar ficar indiferente às dores de parto que provocam este renascer contínuo. Foi difícil, mas orgulho-me disso, de o ter conseguido por entre silêncios, lágrimas e escassos sussurros.

Em tempos (tanto tempo que quase parece uma vida passada), na altura em que o apelo da folha branca era incontornável, escrevi um livro sobre "faces", gritos de alma da minha pessoa desmultiplicada em personagens banais... E hoje decido-me a ser metáfora de mim novamente, o que quer que seja que isso signifique...

2005/08/14

VIAJANTE

A ideia de ser viajante toda a vida sempre me agradou. Poder andar por aí, conhecer, aprender, absorver culturas, ter nos olhos e na pele as marcas de cada recanto visitado... poder dizer que não sou de lado nenhum, mas de todos ao mesmo tempo e não ser de ninguém, nem de mim própria, ser mero vento que passa (como trova). Meter a vida numa mochila e ir com passos sem rumo, mas firmes.

Mas para se ser viajante assim implica ser-se solitária, desprendida e forte para que a única companhia seja a nossa própria. E essa é a tarefa mais árdua: a de não nos deixarmos prender.

Nunca consegui alcançar este estatuto. Apenas bolinei a costa em alguns momentos da minha vida, sem nunca ter tido coragem de deixar o vento encher as velas e me levar para mar alto. Não pelo desconhecido, que me atrai misteriosa e perigosamente, mas pelo que fica em terra, acenando para mim.

Ser partida de cais, como intenção, ter um pequeno barco a remos como realidade.

Mas reconheço que não preciso de ser viajante para ser solitária. Exisem coisas que não precisam de ser procuradas, porque nos atropelam e deixam marcas indeléveis e o sangue no asfalto. Não me sinto vento, embora tenha momentos de brisa.

2005/08/11

...

Gosto de conduzir. Mas gosto de conduzir porque esse acto me permite pensar: eu, a música, o carro e os meus pensamentos. Geralmente as ideias fluem e, admito, grande parte das minhas decisões foram tomadas ao volante, por isso, diversas vezes, gosto de me meter no carro e conduzir sem qualquer tipo de destino. Ir, só por ir...

Hoje o meu novelo de raciocínio começou n'A Insustentável Leveza do Ser, do Kundera, cruzou o Kafka e terminou no Cervantes... Estranho, não é? São tantas as vezes que dou por mim a abanar a cabeça e incrédula pela forma como fluem as ideias. Mas, de qualquer forma, hoje consegui explicar a mim mesma algo que me andava a incomodar por não ter definição.

E o resultado final foi de que me senti mínima como um grão de areia solto, vulnerável a qualquer corrente de ar... E a sensação é péssima... invadiu-me uma tristeza muito grande, uma melancolia que se colou à minha pele de forma asfixiante...

Difícil esta dicotomia entre ser e estar, bem como ler as entrelinhas do significado de cada verbo, bem como a sua aplicação prática...

Esta fase de questionar todas as minhas certezas e verdades pessoais está a arruinar-me os alicerces!

2005/08/04

CHECK-LIST

Acabei de receber este e-mail... achei-o muito bonito! Depois de o ter lido resolvi fazer um check-list, o que aconselho a todos que façam... :)

Quando encontrares alguém e esse alguém fizer o teu coração parar de funcionar por alguns segundos, presta atenção: pode ser a pessoa mais importante da tua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fica alerta: pode ser a pessoa que tu estás à espera desde o dia em que nasceste.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água nesse momento, percebe: existe algo mágico entre vocês.

Se o 1º e o último pensamento do teu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeçe: algo do céu te mandou um presente divino : O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receberes um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entrega-te: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo estiveres triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o teu sofrimento, chorar as tuas lágrimas e enxugá-las com ternura: poderás contar com ela em qualquer momento da tua vida.

Se conseguires, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do teu lado... Se achares a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se não conseguires trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se não consegues imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao teu lado... Se tiveres a certeza que irás ver a outra envelhecendo... e, mesmo assim,tiveres a convicção que vais continuar sendo louco por ela...

Se preferires fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o Amor que chegou na tua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar,sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É o livre-arbítrio.

Por isso, presta atenção aos sinais. Não deixes que as loucuras do dia-a-dia te deixem cego para a melhor coisa da vida: o AMOR!!!

Ama muito.....muitíssimo.......
Beija alguém de quem gostas quando receberes esta mensagem, mesmo que seja em pensamento.


Carlos Drummond de Andrade

2005/08/02

NUVEM

Existem momentos pertinentes em que se deve parar para respirar. São momentos ténues que, como nuvens, se esboram ao mais leve toque. Nesse momento fica a dúvida se se deve suster a respiração para que a nuvem não desapareça ou se se deve fazer o pretendido: respirar e corrermos o risco de que a nuvem desapareça. Optei por respirar...

... Respirar e suspirar.

E o facto é que a nuvem ainda continua por entre os meus dedos e que vou ganhando cada vez mais coragem para mergulhar nela, percorrê-la demoradamente, sorvê-la e bebê-la. É uma nuvem cor-de-sonho, nova cor que juntei ao meu arco-íris cada vez mais brilhante.

Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar


Mais do que certeiras estas palavras do Jorge Palma...