2006/03/14

FILOSOFIA

Filosofia, do Lat. Philosophia. Gr. philosophía, amor ao saber. s. f., ciência geral dos princípios e das causas; investigação dos princípios essenciais que supõem uma ciência particular; doutrina filosófica; razão, sabedoria; força moral e elevação de espírito com que o Homem se coloca acima dos preconceitos; amor ao saber.

Nos últimos tempos tenho andado dada a leituras mais filosóficas. Depois da Imortalidade do Kundera (que é um verdadeiro tratado sobre as relações humanas), dei em pegar na República de Platão. Pesado, pesado…, sem dúvida… mas de certa forma estas leituras profundas têm-me iluminado em certas questões que de volta e meia me apareciam. São livros bem diferentes, mas, como o é a própria Filosofia, falam da essência humana e do desejo de saber.



O debate socrático sobre a justiça maravilhou-me porque, mais uma vez, se prova que o ponto de vista difere sempre de cada olhar. A justiça, por exemplo, e o seu conceito não são tão lineares quanto isso. Constatamos, mais uma vez, que nada na vida é absoluto, não existe uma verdade exclusiva sobre cada questão. Isto fascina-me, porque me dá que pensar… o que é justo para uns pode ser, para outros, exemplo de tirania e de egoísmo.

O Kundera fala-nos da necessidade que o ser humano tem em ser imortal, podendo sê-lo de duas formas: na memória dos que nos são mais chegados, ou na memória colectiva, tendo que, para isso, ser realizado um acto de carácter grandioso (no mau ou bom sentido). A memória é o nosso bem mais precioso e é isso que cultivamos nos que nos rodeiam e que nos garante a imortalidade. Ninguém deseja ser esquecido ou simplesmente apagado, por isso fazemos os possíveis por permanecer na memória.

Essencialmente tenho aprendido a questionar mais, o que nem sempre é bom, mas que me tem permitido ter um maior discernimento sobre o que é, para mim, essencial ou acessório. Descobri que tinha uma verdadeira lixeira de conceitos que tenho andado a reciclar. Talvez toda esta decantação de ideias seja uma fase, mas pelo menos vou endurecendo a minha maneira de ser, deixando a minha ingenuidade ir desaparecendo. Quem saiba um dia consiga ter uma verdadeira muralha em redor dos meus sentimentos, uma fortaleza que me proteja.

Fase ou não, a verdade é que é um percurso para um individualismo que, para mim e neste momento, é necessário. Filosofias à parte há que retirar ensinamentos em todas as esquinas, mesmo que estas sejam sujas e obscuras, em que nos cruzamos com os nossos fantasmas.

Estou a descobrir que tenho muitos fantasmas e estou só na luta…

2006/03/13

QUOTIDIANO

Quotidiano, do Lat. Quotidianu. adj., que sucede, que se pratica todos os dias, habitualmente.

Invariavelmente, todos os dias, no café onde costumo beber a minha dose obrigatória de cafeína, está um homem, com cerca de 55, 56 anos, de aparência humilde mas cuidada, que bebe um copo de vinho tinto, logo pela manhã. Ao fim do dia, quando paro para mais um café, ele está lá novamente (talvez ainda não tenha saído de lá) com outro copo de vinho à sua frente. Tem um ar triste e só, mas emana uma certa tranquilidade e firmeza de gestos que me atraíram a atenção. Todos os dias vou acrescentando algumas divagações à estória que não sei se será a sua, mas que o seu olhar, perdido no horizonte, por vezes indicia.



Não sei o nome dele, mas tem cara de António, certamente vive sozinho, só deve ter um filho, no máximo dois, mas que já devem ter seguido a vida com as suas próprias pernas. Tem no olhar o vazio de quem não tem amor ao chegar a casa, possivelmente há muito tempo. Há algo nele que me diz que ele não procura mais o amor. Tem ar de quem deixou de acreditar nesse sentimento, melhor: tem ar de que já viveu o amor da vida dele e o perdeu.

Todos os dias bebe vinho, possivelmente tem no bolso alguma recordação material desse amor. Há nele a certeza assustadora de quem já amou tudo o que tinha para amar, por isso tem um ar tão sereno. Já conheceu o sofrimento e a alegria que o amor possui e já sabe o que quer: não deseja amar mais.

Invejo-lhe essa capacidade e esse discernimento. Perco sempre algum tempo a perceber a forma de estar deste António que criei no meu imaginário e a querer entender este desprendimento…

GESTO

Gesto, do Lat. Gestu. s. m., movimento do corpo, especialmente da cabeça e dos braços, para exprimir ideias; sinal; mímica; (no pl.) movimentos da fisionomia, da cabeça e dos braços, com que o orador comenta ou dramatiza o discurso.

Um gesto é como uma nota musical, um movimento colorido que nos indica o estilo, a atitude. São os pequenos gestos que nos denunciam a forma de ser e de estar, o ritmo corporal que nos insinua a dança que é inerente a cada pessoa.

Mas, generalizemos. Um gesto pode ser físico, um simples acto de expressão, ou de sublimação de ideias, ou um acto e aí indicia a atitude.

Os gestos fascinam-me. Opto claramente pelos pequenos gestos do dia-a-dia (leiam-se “actos”) aos grandes gestos. Estes últimos lembram-me alguma frieza, porque não são tão espontâneos.

Gesto é movimento, liberdade, acto de dar, receber, sorrir, chorar, abraçar, aniquilar, enfatizar, coroar, sublimar, destruir… os gestos não existem per si, mas sim num conjunto e a isso chamo “atitude”.



Poderia concluir que me apraz analisar alguém pelos seus gestos como forma de entender a sua atitude, no fundo uma espécie de prova dos nove. Seria assim linear e simples, a leitura, caso o ser humano também o fosse. Mas não… há gestos invisíveis que contrariam o sorriso, ou então o mal-estar. Eu, em caso de dúvida, opto pelo gesto como sendo o verdadeiro, pois um beijo pode ser tão automático quanto o acto de comer, dormir ou espirrar. Os gestos não o são, porque neles reside a expressão corporal que tantas vezes desmente o que as bocas dizem.

Mas também aceito a ideia de que mecanizamos os gestos, porque é uma camuflagem obrigatória para sobrevivermos neste mato que é a vida, neste mercantilismo que é sobreviver, estando bem com deus e com o diabo.

A volatilidade efémera dos gestos está em agravada decadência, cada vez menos o movimento arrebatador se faz notar, o que me dá alguma pena, porque, creio, damos sempre tudo por garantido.

Esta é a minha lição para este dia, o primeiro dia de 2006 em que vi uma borboleta e fiquei a pensar na sua fragilidade, mas na sua enorme beleza e pureza, embora tão fugaz… como os gestos… Foi um momento de iluminação para mim quando metaforizei o que via… poderosa imagem que me abraçou como há muito não me abraçavam.

MULHER

Mulher, do Lat. Muliere. s. f., pessoa do sexo feminino, depois da puberdade; pessoa adulta do sexo feminino; esposa; consorte; senhora; pessoa do sexo feminino pertencente à classe popular; o conjunto das pessoas do sexo feminino; espécie de jogo. Bot., frágil: planta africana.

(O post mais do que atrasado e, acredito, um pouco polémico…)



Do Dia Internacional da Mulher há sempre muito a dizer: revê-se a História, os factos, os momentos, analisam-se as estatísticas, empreendem-se eventos comemorativos por todos os lados em que tropeçamos.

Longe de mim está a negação de que ainda existe exclusão e marginalização com base no sexo do indivíduo, tenho a certeza de que as mulheres ainda têm um imenso caminho a percorrer até que, finalmente, entendam que reside nelas o poder do mundo e não nos homens. A isso chamamos fertilidade.

Mas as datas deixam-me sempre pensativa: devemos celebrar, reflectir, analisar, mas nunca num dia especificamente marcado nos calendários do mundo. Hoje apetece-me ver o antípoda deste dia: o homem.

Constantemente, na esfera feminina, o papel do homem é renegado vezes sem conta para o hemisfério do futebol, dos carros, dos pregos nas paredes e dos móveis que têm que ser mudados de posição. Olhamos para eles como a força bruta que não queremos ter. despojamos os homens de sentimentos, emoções, relegamo-los para o plano meramente funcional e operacional, para isso eles saíram das cavernas: existiam para abastecer e servir a família, a mulher, os filhos.

Existirá maior subserviência do que esta? O homem ser artefacto, meio para um objectivo?

É criticável, claro, este ponto de vista, mas questiono: os homens não serão como são por molde social? Não serão as próprias mulheres as primeiras a educá-los masculamente? Um homem que expresse sentimentos, que abomine futebol, não ligue a carros e que seja suave e meigo não é visto como uma “aberração”? As mulheres não serão as primeiras a analisá-lo deste prisma?

E as mulheres? Queimámos os soutiens, gritámos que esta seria a nossa revolução sexual, vestimos calças e reclamámos os nossos trabalhos, os nossos direitos. Assumimos a igualdade de direitos, que estará sempre acima de qualquer julgabilidade, mas na hora do prego na parede continuamos a achar que precisamos dessa força bruta, porque o carácter feminino não pode ser violentado dessa forma.

Não será essa uma linha ambígua?

Sinceramente ainda não sei quem castra quem, mas quase me sinto tentada a afirmar que o mundo está nas mãos das mulheres e que passa por elas, somente, essa igualdade de direitos: o homem que possa chorar sem vergonha e a mulher a carregar mobiliário… para isso temos filhos, eduquemo-los na igualdade e na liberdade de expressão.


P.S. – It’s just a brainstorming! :)