2005/07/20

IN ILLO TEMPORE...

Naquele tempo os actos e as palavras eram inconsequentes, pueris, sorridentes, com cheiro de malmequeres e o cão sempre tão companheiro. Nesse passado era fácil descortinar as traquinices, as aventuras, os passeios de horas perdidas numa bicicleta que quase voava... As horas eram pausadas, lânguidas, os verões quentes e cheios de odores e sensações intensas...

Naquele outro tempo as pernas já eram mais altas, o tombo maior e o risco mais calculado. As palavras começaram a fluir mais metódicas e os actos eram racionais... o cão era outro, mas ainda mais fiel. A bicicleta deu lugar ao carro e o tempo começou a estreitar-se, cada vez mais rápido, dando lugar a outros sabores e aromas, mais acres e densos...

A comunicação ganhou contornos diferentes e já não se gritava e chorava quando se caía, já não se corria para o colo mais próximo, já não se dizia o pensamento imediato, não sem que antes o mesmo fosse filtrado pela inquisição do "correcto". Vieram as normas, normativos e despachos. Vive-se a vida ao abrigo do Decreto-Lei e da rotina tirana. O "somos livres" que se trauteia é uma lenga-lenga que nos faz acreditar num conceito remoto que se esbate no tempo... Somos escravos de pulsos amarrados aos ponteiros do relógio.

E o que não se disse ficará por dizer, o que não se fez ficará por fazer, como que se esperássemos o momento certo, a hora livre na agenda, o segundo ideal... Temos a perfeição como horizonte, mas por mais que se ande o horizonte vai-se prolongando sem que o toquemos... é uma demanda sem data marcada de vitória ou de embate. Sabemo-lo empiricamente, mas não o admitimos, porque o tempo prossegue e os pulsos estão lá amarrados...

Quero um dia olhar para o meu tempo e dizer que esta não foi a minha estória, sem exprimir e sem mostrar as minhas emoções, que a soube contornar e viver e sentir cada momento. O que sinto, como sinto, o que sou de peito aberto rasgado pelo alcatrão da vida, tantas foram as quedas silenciosas...

E foi preciso que me morresses para que eu finalmente conseguisse ter a coragem de abraçar, mimar e nutrir a pessoa que sou, procurando o regaço de que tenho saudades, quebrando as minha barreiras sabiamente erguidas, explodir num choro e pedir um abraço.

Sei-o... um dia serei somente sangue vivo e fluído, pele e carne, sem a densidade opaca e asfixiante de máscaras consecutivas, porque terei a capacidade de dizer a cada momento, a cada instante, o que sinto e o que desejo. Há que esbanjar o amor para que o mesmo se renove e encha ainda mais a alma de múltiplas sensações.

Nesse tempo, sim, serei livre.

2005/07/11

VÔO

Lembras-te de te ter pedido para ser a Lua do teu céu estrelado?



Deixas-me feliz por, em cada minuto, aceitares o meu pedido!

"DESPERTARES"

É um título de um filme da final da década de 80, que conta com o Robin Williams no papel principal, um neurologista que encontra uma nova droga que faz acordar de uma vida vegetativa uma série de pacientes internados ad aeternum num asilo. É um filme tão belo que faz chorar, porque opõe o sonho à realidade, o desejo à prática.

Lembrei-me deste filme nem sei porquê... talvez porque tenho andado em brainstorming ultimamente, a reflectir sobre a vida e a tomar decisões que me vão alterar para todo o sempre. Mudar de emprego, de casa e inclusive de país, isto já para não referir o facto de estar a viver uma nova relação em tudo diferente daquilo que já vivi.

Até este momento o filme continua a não ter ligação com as restantes palavras... o filme só ficará contextualizado ao nível de título, nada mais. Tenho andado a despertar em mim sonhos antigos e a limpar-lhes o pó. Cada vez mais nos imagino, daqui a uns anos, tu a pintares e eu a escrever, num silêncio pleno de cumplicidade.

E também porque descobri a derradeira vontade de mostrar ao mundo o quanto estou bem. Ontem comecei por falar com a minha mãe e dei-lhe todos os sinais de que a minha ia mudar, depois tive uma conversa como nunca tive com a minha irmã.

O engraçado é quando olho para tudo penso que nunca a minha vida andou tão bem encaixada nos eixos, sem dificuldades de maior... isto quase que me levaria a tecer considerações sobre o tema "destino" e/ou "livre-arbítrio", mas ficará paa outro dia.

Existem despertares repentinos e eu só sei que não quero adormecer de novo!

TRAVADINHA...

... Foi o que deu à secção do lado direito deste blog... Tenho metade de um template, a outra metade desapareceu misteriosamente...

Be afraid... be very afraid!!!!

Prometo ir buscar a caixa de ferramentas ainda hoje!

2005/07/09

UM MINUTO

Hoje tenho um breve minuto para me sentar aqui, ver os e-mails que entram aos molhos, gravar uns CD's pedidos e respirar fundo. Um respirar fundo que socumbe a um longo suspiro no final. tenho andado assim: aos suspiros. A voar quando me dizem "vem", a caminhar em algodão quando saboreio uma torrente de emoções.

Tenho andado assim: apaixonada.

E neste breve instante olho-me nos olhos e distingo com uma clareza total o antes e o depois. Sou diferente da pessoa de há um mês atrás. E como a minha vida se alterou! Tão grande é tudo isto que estamos a viver que o amanhã se prevê completamente novo.

Está a fechar-se um ciclo da minha vida e este, onde vou dando os primeiros passos, é novo em tudo. Fascinante pela descoberta e pelo crescimento que me vai permitir. Iremos amadurecer em uníssono, alma na alma, é o que nos bastará.