IN ILLO TEMPORE...
Naquele tempo os actos e as palavras eram inconsequentes, pueris, sorridentes, com cheiro de malmequeres e o cão sempre tão companheiro. Nesse passado era fácil descortinar as traquinices, as aventuras, os passeios de horas perdidas numa bicicleta que quase voava... As horas eram pausadas, lânguidas, os verões quentes e cheios de odores e sensações intensas...
Naquele outro tempo as pernas já eram mais altas, o tombo maior e o risco mais calculado. As palavras começaram a fluir mais metódicas e os actos eram racionais... o cão era outro, mas ainda mais fiel. A bicicleta deu lugar ao carro e o tempo começou a estreitar-se, cada vez mais rápido, dando lugar a outros sabores e aromas, mais acres e densos...
A comunicação ganhou contornos diferentes e já não se gritava e chorava quando se caía, já não se corria para o colo mais próximo, já não se dizia o pensamento imediato, não sem que antes o mesmo fosse filtrado pela inquisição do "correcto". Vieram as normas, normativos e despachos. Vive-se a vida ao abrigo do Decreto-Lei e da rotina tirana. O "somos livres" que se trauteia é uma lenga-lenga que nos faz acreditar num conceito remoto que se esbate no tempo... Somos escravos de pulsos amarrados aos ponteiros do relógio.
E o que não se disse ficará por dizer, o que não se fez ficará por fazer, como que se esperássemos o momento certo, a hora livre na agenda, o segundo ideal... Temos a perfeição como horizonte, mas por mais que se ande o horizonte vai-se prolongando sem que o toquemos... é uma demanda sem data marcada de vitória ou de embate. Sabemo-lo empiricamente, mas não o admitimos, porque o tempo prossegue e os pulsos estão lá amarrados...
Quero um dia olhar para o meu tempo e dizer que esta não foi a minha estória, sem exprimir e sem mostrar as minhas emoções, que a soube contornar e viver e sentir cada momento. O que sinto, como sinto, o que sou de peito aberto rasgado pelo alcatrão da vida, tantas foram as quedas silenciosas...
E foi preciso que me morresses para que eu finalmente conseguisse ter a coragem de abraçar, mimar e nutrir a pessoa que sou, procurando o regaço de que tenho saudades, quebrando as minha barreiras sabiamente erguidas, explodir num choro e pedir um abraço.
Sei-o... um dia serei somente sangue vivo e fluído, pele e carne, sem a densidade opaca e asfixiante de máscaras consecutivas, porque terei a capacidade de dizer a cada momento, a cada instante, o que sinto e o que desejo. Há que esbanjar o amor para que o mesmo se renove e encha ainda mais a alma de múltiplas sensações.
Nesse tempo, sim, serei livre.
Naquele outro tempo as pernas já eram mais altas, o tombo maior e o risco mais calculado. As palavras começaram a fluir mais metódicas e os actos eram racionais... o cão era outro, mas ainda mais fiel. A bicicleta deu lugar ao carro e o tempo começou a estreitar-se, cada vez mais rápido, dando lugar a outros sabores e aromas, mais acres e densos...
A comunicação ganhou contornos diferentes e já não se gritava e chorava quando se caía, já não se corria para o colo mais próximo, já não se dizia o pensamento imediato, não sem que antes o mesmo fosse filtrado pela inquisição do "correcto". Vieram as normas, normativos e despachos. Vive-se a vida ao abrigo do Decreto-Lei e da rotina tirana. O "somos livres" que se trauteia é uma lenga-lenga que nos faz acreditar num conceito remoto que se esbate no tempo... Somos escravos de pulsos amarrados aos ponteiros do relógio.
E o que não se disse ficará por dizer, o que não se fez ficará por fazer, como que se esperássemos o momento certo, a hora livre na agenda, o segundo ideal... Temos a perfeição como horizonte, mas por mais que se ande o horizonte vai-se prolongando sem que o toquemos... é uma demanda sem data marcada de vitória ou de embate. Sabemo-lo empiricamente, mas não o admitimos, porque o tempo prossegue e os pulsos estão lá amarrados...
Quero um dia olhar para o meu tempo e dizer que esta não foi a minha estória, sem exprimir e sem mostrar as minhas emoções, que a soube contornar e viver e sentir cada momento. O que sinto, como sinto, o que sou de peito aberto rasgado pelo alcatrão da vida, tantas foram as quedas silenciosas...
E foi preciso que me morresses para que eu finalmente conseguisse ter a coragem de abraçar, mimar e nutrir a pessoa que sou, procurando o regaço de que tenho saudades, quebrando as minha barreiras sabiamente erguidas, explodir num choro e pedir um abraço.
Sei-o... um dia serei somente sangue vivo e fluído, pele e carne, sem a densidade opaca e asfixiante de máscaras consecutivas, porque terei a capacidade de dizer a cada momento, a cada instante, o que sinto e o que desejo. Há que esbanjar o amor para que o mesmo se renove e encha ainda mais a alma de múltiplas sensações.
Nesse tempo, sim, serei livre.
4 Comentários:
irra...!
um bjos, miuda...
"Há que esbanjar o amor para que o mesmo se renove e encha ainda mais a alma de múltiplas sensações."
Como eu concordo com isto... com tudo, mas principalmente com isto!
*azul
Lindo texto este.
O amor nunca é esbanjado quando tudo se quer!
Agora por falar em cão, é neste tempo, just now que o arranjei e é tão fiel, abençoado!
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