MISTÉRIOS DO AMOR INCONDICIONAL
Ele
O peso físico dos seus 65 anos era notório. Tinha um problema de coluna que lhe afectava a mobilidade do braço esquerdo. A vida passara-lhe pelo corpo e eram agrestes as marcas vincadas nas rugas do rosto. Sempre simpático, não muito sorridente, mas com uma preocupação constante em relação às pessoas que o rodeavam no quotidiano. Às vezes assumia o papel de pai quando perguntava porque é que não parávamos de trabalhar pelo menos para comer qualquer coisa.
A mágoa da sua vida não era a deficiência, mas sim a falta de amor. Era notório no seu olhar. A mulher há muitos anos que o abandonara sem explicar o motivo. Um dia, passados uns anos, ela regressou para lhe pedir colo e dinheiro. Quando se fartou voltou a fugir. Deixou-lhe a mãe, doente e praticamente acamada, de feitio tenebroso. Ele, imperturbável ao olhar mundano, cuidou da sogra, deixando de comer para lhe dar, pois o dinheiro não era abundante e ainda ia fazendo transferências de cada vez que recebia um telefonema da mulher.
Ainda tinha o filho, entretanto casado, e que nunca soube compreender porque é que o pai continuava a fazer o que fazia. A incompreensão criara um fosso entre eles difícil de suprir. Carregavam ambos esse fardo sem saberem como o tirar das costas.
Ela
Dizem que fugiu porque se perdeu de amores e que depois também foi abandonada. Regressou, voltou a partir por outro amor. Vive mal. É mal-tratada. Chora muitas vezes ao telefone quando liga para ele. Pede-lhe dinheiro porque quase não tem comida. Não o visita, nem à mãe, nem ao filho. Só quer estar longe.
Consta que hoje ela não irá ao funeral dele.
Sabe-se que ele morreu no silêncio da noite, sozinho na escuridão.
***
Esta é uma história real, como tantas outras do nosso dia-a-dia. Esta toca-me porque o conheço. Melhor: conheci-o. Trabalhámos juntos cerca de 2 anos. Era uma pessoa amargurada e triste. Mas eu sei que ele a amava profundamente, por isso passou por tudo o que passou na vida…
E o que me deixa a pensar é o conceito subjectivo de amor… Eu não sei se seria capaz de fazer o que ele fez. No entanto não posso deixar de respeitar imenso e, no fundo, admirar o sentimento que ele nutria. Será este o verdadeiro amor incondicional?
O peso físico dos seus 65 anos era notório. Tinha um problema de coluna que lhe afectava a mobilidade do braço esquerdo. A vida passara-lhe pelo corpo e eram agrestes as marcas vincadas nas rugas do rosto. Sempre simpático, não muito sorridente, mas com uma preocupação constante em relação às pessoas que o rodeavam no quotidiano. Às vezes assumia o papel de pai quando perguntava porque é que não parávamos de trabalhar pelo menos para comer qualquer coisa.
A mágoa da sua vida não era a deficiência, mas sim a falta de amor. Era notório no seu olhar. A mulher há muitos anos que o abandonara sem explicar o motivo. Um dia, passados uns anos, ela regressou para lhe pedir colo e dinheiro. Quando se fartou voltou a fugir. Deixou-lhe a mãe, doente e praticamente acamada, de feitio tenebroso. Ele, imperturbável ao olhar mundano, cuidou da sogra, deixando de comer para lhe dar, pois o dinheiro não era abundante e ainda ia fazendo transferências de cada vez que recebia um telefonema da mulher.
Ainda tinha o filho, entretanto casado, e que nunca soube compreender porque é que o pai continuava a fazer o que fazia. A incompreensão criara um fosso entre eles difícil de suprir. Carregavam ambos esse fardo sem saberem como o tirar das costas.
Ela
Dizem que fugiu porque se perdeu de amores e que depois também foi abandonada. Regressou, voltou a partir por outro amor. Vive mal. É mal-tratada. Chora muitas vezes ao telefone quando liga para ele. Pede-lhe dinheiro porque quase não tem comida. Não o visita, nem à mãe, nem ao filho. Só quer estar longe.
Consta que hoje ela não irá ao funeral dele.
Sabe-se que ele morreu no silêncio da noite, sozinho na escuridão.
***
Esta é uma história real, como tantas outras do nosso dia-a-dia. Esta toca-me porque o conheço. Melhor: conheci-o. Trabalhámos juntos cerca de 2 anos. Era uma pessoa amargurada e triste. Mas eu sei que ele a amava profundamente, por isso passou por tudo o que passou na vida…
E o que me deixa a pensar é o conceito subjectivo de amor… Eu não sei se seria capaz de fazer o que ele fez. No entanto não posso deixar de respeitar imenso e, no fundo, admirar o sentimento que ele nutria. Será este o verdadeiro amor incondicional?
5 Comentários:
Eis o cerne da questão, onde eu queria chegar: perspectivas.
Ele ama. Ela não ama (?). Não terá ela direito ao amor?
Exemplo que as verdade nunca são absolutas... ;)
Não consigo meter-me na pele deste (pobre) homem, nem imaginar cada segundo a sua vida, que sentimentos lhe traria a ex-mulher, etc. etc.
Mas sei que há coisas que fazemos em determinadas situações por amor ao outro, que provavelmente antes pensaríamos ser incapazes de as fazer. Por variadíssimas razões.
Relativo, relativo…
Também não consigo meter-me na pele desta mulher.
Dela é que não.
Não me serve. Suponho que seria demasiado pegajosa, pequena, amorfa e imunda o suficiente para nunca me conseguir lá enfiar…
Mas relativamente a ele, há uma frase que penso ser fulcral para o entender: ..."mas com uma preocupação constante em relação às pessoas que o rodeavam no quotidiano. Às vezes assumia o papel de pai quando perguntava porque é que não parávamos de trabalhar pelo menos para comer qualquer coisa."
Não quererá ela dizer tudo sobre a verdadeira natureza dele?
;)
BJ
SK
Lá está, SK: é uma questão de perspectiva... Eu mais facilmente falei dele, pois conhecia-o. Mas isso não invalida que ela não tenha motivos (fortes) para ter feito o que fez...
Para entendermos as duas questões teríamos que nos despir de variadíssimos conceitos que estão impregnados em nós.
Talvez ainda mais.
Teríamos de saber tanto dela como sabemos dele, das circunstancias de cada segundo da vida dela, embora neste caso e falando da natureza das pessoas...
Quem abandonaria a própria mãe, quase inválida, ao seu ex-marido? (também aqui há que verificar a questão da concordância da parte dele com a situação antes desta se consumar ou não…)
Mesmo que com um feitio tão particular como o dela? (qualquer um se sentiria tentado. LOL).
Complicadas estas coisas. Mas é verdade. Existem sempre dois lados de uma mesma história e uma infinidade de perspectivas…
BJ
SK
Nem mais! ;)
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