2007/05/28

DOS SONHOS...

Não há palavra mais bonita do que "sonhar", outras são tão belas quanto, como "amor","liberdade", "paz", "felicidade", mas sonhar é isso: um misto de ar, etéreo, som, solidão,... não que a aqui a solidão seja termo perjorativo, antes pelo contrário, por vezes a solidão é benéfica, porque nos permite pensar, analisar e decidir, outras vezes só serve para sentirmos um pouco de silêncio que também falta faz.

Mas sonhar é bom, adoro sonhar, acho que me mato no dia em que deixar de contruir os meus castelos de areia, as minhas fortalezas inexpugnáveis, onde deixarei de me permitir caminhar para bem onde entender. Mas depois temos a racionalidade, que sabe distinguir quais os sonhos exequíveis e quais são apenas sonhos longinquos.

Já tive uma alma cheia de sonhos, de vontades, projectos e loucuras, sonhos bem coloridos, cheios de paz, ternura e amor. São sonhos tranquilizantes onde sabe bem voltar, onde apetece ficar. Mas nunca fui de sonhos exigentes, de voos maiores do que os de Ícaro... são sonhos tão comuns que acho que os partilho com metade da população mundial. Esse foram os que ficaram, outros já foram sendo esvaziados pelos caminhos da vida, porque deixaram de ser possíveis, ou porque as minhas escolhas foram outras, para rumos opostos.

Antigamente deitava-me na cama e deixava-me levar pela minha imaginação sempre pródiga em fantasia, adormecia numa paz tão inteira que quase tocava o absoluto! Hoje adapto-me a outros sonhos, nem sempre me lembro dos meus sonhos de sempre, aqueles em que me via velhota, na minha varanda com vista para o mar, a afagar o meu cão preto, e a escrever mais um dos meus livros. Curioso como os sonhos também se adaptam à realidade... já não me imagino a escrever, acho que estou a descurar as minhas queridas metáforas, já não me imagino numa varanda debruçada sobre o mar. Olhos e nem sei o que vejo, vejo-me e não me vejo, como se o meu sonho ainda estivesse a meio caminho da construção, como se a imagem estivesse renitente em se definir... Nem sei se sonho mais, já não há espaço para esse mundo. Cresceram as minhas pernas, agora cresce a minha adultidade, longe de onde me imaginava há uns anos atrás.

Não me queixo, não o choro, mas constato e entristece-me que esteja a afastar-me da capacidade de sonhar. Ou, analisando de outro prisma, sou uma pessoa diferente de quem era, mais adulta e madura, sim, mas dotada de uma racionalidade excessiva que está a tirar espaço do que mais amo: a minha alma.

O post do "não consigo"

Não consigo dormir (mas talvez seja porque dormi até ao meio-dia, 11 horas seguidas de um sono profundo que ainda assim não me recompôs). Já tomei um comprimido mas a dor de cabeça não passa. Já passei pomada nas costas mas a dor continua lacinante.

Não consigo dormir e os cães, cá em baixo, deram em ladrar e uivar (agora que vim para o computador parecem satisfeitos, como se soubessem que o plano deu certo).

Não consigo dormir e estou irritada, furiosa, nem sei se com isso se com o resto, mas acho que com o mundo, abreviando explicações.

Este já parece o post do "não consigo"...

Depois sento-me ao computador, à espera que me passe a irritabilidade ou que chegue o João Pestana (com as duas hipóteses era feliz, mas já me satisfaço com apenas uma delas)... As costas ainda me doem mais e a luz do monitor entra-me cérebro adentro que nem gume de adaga... Escrevo, páro, releio, escrevo e páro, sem cadência e quase sem fluência. Deve ser do adiantado da hora, o "shutdown" do cérebro já ocorreu há uma hora atrás, mas o curioso é que ainda sinto os passos dos pensamentos em sincronia militar...

Para não dizer disparates vou vaguear silenciosamente por aí... sem barulho pode ser que tudo acalme...