2005/05/08

CAHIERS

Disseram-lhe uma vez que os sonhos são castelos de ar, tão somente isso: um amontoado de nuvens que se desfazem lentamente e se espalham pela imensidão, até que nada mais reste delas, nem mesmo o seu trilho.

Alertaram-na, também, que os idealismos são bonitos, mas apenas no papel que cabe aos poetas rabiscar, tudo o que fugisse a isso tenderia a tornar-se uma aberração à qual a realidade não poderia ficar alheia e que teria de destruir.

Os avisos surgiam como tabuletas cada vez maiores, parecendo um cemitério imenso e deserto que lhe cabia, unicamente a ela, cumprir e atravessar.

O sistema impôs-se, ou ela impôs-se a ele, disso nada se sabe, apenas se comenta nas esquinas das línguas traiçoeiras o eterno “diz que disse”, que a Humanidade vai plagiando, com vírgula a mais, ponto a menos, adjectivos muitos ou, simplesmente, todo o inverso agora relatado.

A ela nunca lhe coube nenhum papel interessante na ordem do universo divino, e mesmo que isso tivesse acontecido, para ela seria um elemento alheio à sua racionalidade. Dêem-lhe átomos, carne e osso, e isso talvez seja entendido como a ordem natural das coisas, como respirar, nascer ou morrer. O âmago da questão seria sempre o viver, melhor: o sobreviver às agruras desditosas de um destino em que não acreditava mas do qual seria, ingenuamente, mero fantoche, num pacto anteriormente estipulado entre deuses, santos e espíritos, mais anjos e arcanjos, demónios e afins.

Escrito estava, onde é que não se sabe…

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